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• 16/06/2025BATERIAS DE ÍONS LÍTIO: UMA “POSSÍVEL” REALIDADE NO BRASIL
Atualmente, a China controla de forma esmagadora a cadeia de fornecimento de baterias de íons de lítio para veículos elétricos e armazenamento de energia, da extração de matéria-prima à produção das células.

Atualmente, a China controla de forma esmagadora a cadeia de fornecimento de baterias de íons de lítio para veículos elétricos e armazenamento de energia, da extração de matéria-prima à produção das células.
Quando se fala em eletromobilidade, esse domínio é visto como uma ameaça tanto pela Europa como pelos EUA. Diante desse cenário, emerge a necessidade de políticas de Estado que incentivem de forma significativa investimentos em mineração e refino, além de parcerias estratégicas para a produção de componentes e células para reduzir essa dependência asiática.
A produção de baterias de íons lítio envolve uma cadeia de suprimentos complexa e globalmente interconectada. Com base em vários relatórios sobre baterias de íons de lítio, considerando aspectos geopolíticos, chega-se à conclusão de que a China domina quase toda a cadeia de valor dessa tecnologia.
Esse domínio abrange desde a extração de matérias-primas até a produção de baterias, com o controle chinês se estendendo tanto às instalações nacionais quanto às estrangeiras. Nenhuma outra região detém controle comparável sobre toda essa cadeia de suprimentos.
Distribuição geográfica da cadeia de valor global de veículos elétricos. Fonte: Battery Report 2022 – Volta Foundation.
Com exceção do manganês, a China detém um controle massivo de minas de lítio, cobalto e níquel, da indústria de transformação do minério em metais e compostos químicos, e de refinarias e instalações de produção em toda a cadeia de suprimentos de baterias.
Atualmente, a China produz mais de 98% de materiais ativos de lítio-ferro-fosfato, essa química que em 2024 representou 59% do volume de baterias de lítio produzidas globalmente, que é uma química mais barata e que não utiliza elementos críticos como o cobalto e níquel como material ativo.
Fica evidente que hoje a China representa uma ameaça ao futuro da eletromobilidade, principalmente para a Europa, que vive atualmente tensões geopolíticas ou mesmo possíveis restrições de exportação, que podem resultar em consequências econômicos significativas. E o Brasil? o Brasil possui um diferencial vantajoso frente à Europa, por exemplo, que depende de forma significativa de importação dessas matérias-primas minerais, que são fundamentais para a produção de células de bateria de íons de lítio.
Se analisarmos somente sob a ótica da mineração, o Brasil tem potencial para minerar, transformar e refinar todos os elementos químicos necessários para a produção de baterias de íons de lítio. A China, com suas estratégias quinquenais, fez investimentos significativos na cadeia de suprimentos e no escalonamento da produção de células.
Quando a Europa e os EUA se deram conta do controle da China sobre a cadeia de a cadeia de suprimentos de baterias de íons de lítio, já era tarde demais. Numa tentativa de, literalmente correr atrás do tempo perdido, Europa e EUA começaram a fazer aquisições de minas e refinarias mundo afora. Os principais países que detém minas de minerais de lítio, cobalto e níquel têm sofrido o assédio para vender as empresas para a Europa ou EUA mas a China, mesmo dominando esse mercado, também tem entrado na disputa de aquisições.
Isso é mais uma demonstração da intensa competição global por matérias-primas críticas.
Ainda sem uma política de Estado definida para essa temática, tem recentemente promovido eventos para discutir a transição energética e a descarbonização, trazendo as mineradoras para a discussão para encontrar um caminho para que o Brasil possa deixar de ser apenas um país de comodities, incentivando a indústria a processar os minerais críticos, refinar e comercializar.

Porém, sem metas claras definidas e sem prazos para que isso possa efetivamente acontecer, evidencia um caminho longo e sem muitas perspectivas para a indústria nacional.
Em 2022, com a criação do Grupo de Trabalho em Baterias de Íons Lítio (GT-7), dentro do MIBi – Made in Brazil Integrado, criado pelo então Ministério da Economia, hoje MDIC, começou a discussão se já não estava na hora do Brasil despertar sobre esse tema tão importante a nível global. Com a participação de várias empresas de vários segmentos industriais, o GT-7 ao longo de dois anos de discussão chegou à conclusão de que seria importante criar uma infraestrutura para a produção pré-industrial de baterias de íons lítio.
Máquina para Produção de pack com células cilíndricas – seleção e soldagem.
Em agosto de 2024, deu-se o início à construção dessa infraestrutura para uma capacidade produtiva da ordem de 6 MWh/ano, nas químicas NMC e LFP nas geometrias cilíndrica e prismática. Esse projeto conta com a participação de 27 empresas e 5 ICTs. A unidade produtiva está localizada no Instituto SENAI de Inovação em Eletroquímica, em Curitiba-PR.
Paralelamente, um outro projeto estruturante foi aprovado para a produção de “packs” de baterias de íons lítio para o setor automotivo.
Layout da infraestrutura do “Centro Nacional para a validação, certificação e homologação de packs de baterias de íons lítio”
Ambos os projetos são da ordem de R$ 100 milhões. Essas iniciativas tiveram o apoio do programa Rota 2030, atualmente chamado de MOVER, que contou com subvenção a fundo perdido da ordem de 90% dos investimentos.
Atualmente, o GT-7 (a participação nesse grupo de trabalho é livre, qualquer empresa podeparticipar) está discutindo um megaprojeto para a criação de um “Centro Nacional para a validação, certificação e homologação de packs de baterias de íons lítio” para o setor automotivo, para atender a uma demanda das montadoras que produzem veículos eletrificados no Brasil. Todas essas inciativas são fundamentais para a criação de políticas públicas que incentivem o desenvolvimento da cadeia de valor de baterias de íons lítio e, quem sabe, em médio prazo, uma indústria de células e packs no Brasil, tanto para a eletromobilidade, quanto para sistemas de armazenamento de energia por baterias – BESS.
Marcos Berton, Instituto SENAI de
Inovação em Eletroquímica.