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Informações • 14/10/2024

RECICLAGEM DE BATERIAS – EXEMPLO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

ARNOLFO MENEZES COELHO


Primeiramente, gostaria de agradecer ao convite de participar dessa 50ª edição comemorativa; é uma honra receber e atender a esse convite, será um prazer falar sobre os tópicos solicitados.
Sou graduado em Engenharia Química, iniciei minha carreira profissional aos 21 anos de idade atuando na área de qualidade em uma empresa de embalagens metálicas em Recife-PE. Aos 23 anos fui contratado pela Baterias Moura como Engenheiro de Processo e durante mais de 22 anos evoluí minha carreira dentro Grupo. Passei por diversas funções, Engenheiro, Chefe de Produção, Gerente da Planta de Reciclagem e, nos últimos 12 anos, como Diretor de Metais e Sustentabilidade.
Nessa diretoria, era responsável pela aquisição das matérias primas metálicas, chumbo, estanho e demais metais usados na composição das ligas de chumbo, também responsável pela operação industrial da reciclagem das baterias inservíveis e pelas áreas corporativas de meio ambiente, segurança industrial, responsabilidade social, insumos energéticos e estratégias de sustentabilidade empresarial.
Nesse período, assumi diversos desafios no Grupo Moura, como: redução de custos operacionais na reciclagem de chumbo, ganho de produtividade financeira e operacional, reduções de custo de aquisição de matérias primas, redução de acidentes de trabalho, redução de chumbo no sangue, melhorias dos indicadores ambientais, estratégias de relações com as comunidades locais e redução de custo e ganho de eficiência dos insumos energéticos.
A Moura também abriu diversas possibilidades de conhecimento. Além de aprendizados em sistemas de gestão, visitei operações de reciclagem e fábricas de baterias em diversos países de vários continentes. Nos últimos 2 anos, atuo como consultor independente, ajudando empresas na área técnica de reciclagem de chumbo, nesse segmento também sou o representante da América Latina da Engitec Technologies, empresa italiana de fabricação de equipamentos de reciclagem. Atuo na implementação de Sistemas de Gestão Industrial, apoiando as empresas nas Estratégias Empresariais e também implementando e participando como membro de Conselhos de Administração.
Durante trajetória profissional, também tive a oportunidade de realizar vários cursos, fiz mestrado em Gestão pela Competitividade pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e MBA´s em Gestão Financeira e Orçamentária, Processos Industriais, Gestão de Pessoas, Segurança do Trabalho e Gestão de Negócios.
A Importância da Reciclagem de Baterias
Como todos sabem, os recursos no planeta são limitados e com o crescimento populacional e a melhoria de qualidade de vida a necessidade de consumo aumenta a demanda mundial. Por isso, a reciclagem de produtos é fundamental para reduzir a exploração de matérias primas de origem primária.
Nessa direção e segundo o Battery Council International (BCI), o chumbo é o produto mais reciclado no mundo e nos EUA atinge uma taxa de 99% de reciclagem. É impressionante quando comparamos com os demais produtos. Isso se deve principalmente à utilização dessa matéria prima em uma cadeia já desenvolvida, 85% do chumbo é utilizado como matéria prima principal na produção de baterias chumbo ácido, há mais de 100 anos. O tempo de desenvolvimento de uma cadeia, as implicações de crescimento da demanda mundial e consequente aumento dos preços do metal primário, fez desse setor no mundo uma referência em logística reversa, desde o sistema robusto de captação do produto pós consumo até uma grande capacidade de reciclagem.
Além disso, temos ainda no processo de reciclagem da bateria usada o reaproveitamento dos demais componentes sendo usados na mesma cadeia, o polipropileno aplicado prioritariamente na produção de novas caixas e tampas e a solução ácida usada no próprio processo de produção de novas baterias e em outras aplicações. Por isso, cerca de 80% das novas baterias de chumbo ácido no mundo ocidental são compostas de matéria prima reciclada.
O Brasil e a Logística Reversa
A legislação brasileira 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), define que o ciclo de vida do produto e a consequente gestão do resíduo gerado ao fim deste processo passaram a ser de responsabilidade compartilhada, com papéis e atribuições específicas para o serviço público, fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e, inclusive, para o consumidor. Com isso, os setores foram obrigados a desenvolver sistemas de logística reversa. A primeira entidade gestora no Brasil para o setor de baterias chumbo ácido foi o Instituto Brasileiro de Energia Reciclável (IBER), na qual participei, desde a criação da entidade até a concepção do sistema, inclusive fui o primeiro presidente do Instituto.
Para garantir o cumprimento dessa legislação, é necessário criar processos que comprovem de forma efetiva que o produto pós consumo esteja sendo captado e destinado de forma ambientalmente adequada. Esse processo, em termos de informações/dados, faz do Brasil uma referência quando comparado com o restante do mundo.
No Brasil temos um excesso de capacidade de reciclagem, atualmente estimo que usamos cerca de 70% de capacidade total, por isso temos a capacidade de reciclar 100% das baterias produzidas, além de existir alguns projetos em andamento que vão ampliar essa capacidade no nordeste, sudeste e sul. O grande problema que temos são os aspectos ambientais, a maioria de nossas operações deixa a desejar quando comparamos com os países desenvolvidos, apesar do grande avanço que tivemos no Brasil nos últimos 25 anos. Sabemos que os metais contidos nas baterias são metais que podem afetar de forma grave o meio ambiente e a saúde humana. Os aspectos ambientais são os maiores desafios tanto do setor de reciclagem como o de fabricação de baterias no mundo.
O Desafio Ambiental na Reciclagem
Quando se fala de legislação ambiental e ocupacional relacionados ao uso de chumbo, temos duas frentes de mudanças de legislações, nos EUA, especificamente no estado da California e a União Europeia (EU). Atualmente existe tratativas na UE que vem tratando de aspectos de higiene ocupacional, chumbo no ar interno e chumbo no sangue, com novos “targets” extremamente mais baixos que as legislações atuais. Inclusive existem discussões na Alemanha que será impossível algumas indústrias/setores atenderem à legislação, como a de instrumento musical, que usa chumbo para melhorar o som dos instrumentos.
São números que para alcançar serão necessárias melhorias em equipamentos, sistemas de proteção coletiva e mudança no comportamento dos colaboradores. É sabido que existem algumas metalúrgicas no mundo que estão em processo ou já conseguiram atingir números similares, mas é um trabalho com grandes investimentos e, o mais importante, um intenso foco na mudança da cultura organizacional. Esse arrocho ambiental já é, e continuará sendo, um dos maiores desafios da indústria de reciclagem de chumbo e de fabricação de baterias chumbo ácido.
Os desafios na operação de reciclagem
Pensando nos aspectos operacionais, particularmente acredito que os custos da operação e a melhoria na qualidade dos produtos sejam os mais relevantes após os aspectos ambientais.
Temos a qualidade das ligas de chumbo e chumbo puro como um item importante. As novas demandas de uma bateria de alta ciclagem, EFB, AGM e bateria para Armazenamento de Energia, requerem uma qualidade especial do chumbo, isso é fundamental para atender as demandas de consumo de água e outros aspectos do produto, por isso o refino do chumbo tende a ser cada vez mais complexo e com custo mais elevado.
Quando olhamos de uma forma geral para as operações de metalurgia no mundo, vemos que existem grandes oportunidades de redução de custo nas operações de metalurgia, a eliminação das perdas operacionais, quando identificadas, são de grande importância na redução dos custos operacionais. O mais importante é ter um bom sistema de gestão que garanta a identificação e tratamento dessas perdas. Por exemplo, são os aspectos do uso dos insumos energéticos, é sabido que os combustíveis e a energia correspondem a aproximadamente 25% do custo operacional, e por isso ganho de eficiência é fundamental na busca da eficiência operacional. Essa gestão nos insumos energéticos também reduz a geração de monóxido de carbono, que com a criação do mercado regulado de carbono e metas setoriais, pode afetar a rentabilidade das operações. A tendência a longo prazo é que as emissões sejam precificadas e cobradas aos fabricantes. Tema extremamente importante para colocar a organização em outro nível de governança, esse é um tema complexo que requeria outra oportunidade para falarmos sobre os aspectos de Sustentabilidade Organizacional.
Voltando para os aspectos ambientais, e que interferem nos custos operacionais, tem um ponto importante que é a geração de resíduos. Como sabemos, um dos temas críticos da indústria de reciclagem de chumbo é a geração de escória. Hoje nos países desenvolvidos é difícil aprovar operações sem o processo de dessulfurização, onde o sulfato de chumbo contido na pasta/óxido da bateria usada é tratado antes de ir para os fornos. Esse processo reduz em aproximadamente 70% a geração de escória, nele é gerado outro resíduo que pode ser usado como matéria prima em outras indústrias. Outro ponto importante é a necessidade de operações com pressão negativa nos galpões industriais, com objetivo de eliminar as emissões fugitivas. Acredito que essas tendências devem vir a ser exigidas também no Brasil.
A Reciclagem de Baterias de Lítio
A primeira vez que vi uma fábrica de reciclagem de Li foi em meados dos anos 2.000, o processo era bem manual e os metais eram separados para serem usados em indústrias de outros setores. A tecnologia de reciclagem evoluiu rápido, temos processos bem mais automatizados e com um melhor nível de separação dos componentes das baterias de Li. Como todos sabemos, os tempos de desenvolvimento de novos processos e novas tecnologias reduziram, por isso, acredito que em uma década teremos processos competitivos para reciclagem dessas baterias.
Um fator importante que deve levar ao desenvolvimento mais acelerado são as novas legislações. Existem atualmente na Europa tratativas para um novo regulamento referente a pilhas e baterias, o foco será a regulamentação na reciclagem das baterias de Li, mas devem gerar implicações para todos os tipos de baterias, incluindo a de chumbo ácido. Estão discutindo temas como: restrições às substâncias perigosas, pegada de carbono, tratamento e reciclagem, conteúdo reciclado e eficiência da reciclagem. Essas discussões estão com foco de gerar uma reciclagem mais robusta e com condições de reuso do material reciclado na mesma cadeia. Apesar de ser impactado por essas possíveis mudanças, acredito que esse processo deva ser bom para a indústria de chumbo, já que sua cadeia e os processos produtivos estão bem desenvolvidos diferentemente da bateria de lítio.
Um aspecto importante a se analisar seria qual o impacto do crescimento das baterias de lítio no preço do chumbo. Como o crescimento do veículo elétrico limita o crescimento de volume de chumbo movimentado no mercado global e como o chumbo primário tem uma grande associação com o Zinco, isto é, o concentrado de chumbo vai estar disponível, pode impactar no preço da commodity chumbo no futuro. Um fator importante que pode ajudar nessa equação é o avanço na área de armazenamento de energia, na qual as baterias de chumbo podem ser competitivas, mas as incertezas desses mercados citados ainda não dão para fazer previsões realistas. Coloco isso porque iniciei em uma época que o LME do chumbo estava na faixa de 450 dólares por tonelada, isso tornava o negócio de reciclagem de baterias chumbo ácido bastante difícil.
Agradeço novamente pelo convite e parabenizo pela 50ª edição.